MAQUIAVEL UM MESTRE QUE NÃO ENSINOU O MAL, APENAS REFLETIU SOBRE O LADO VIL DO HOMEM.
CLÉCIDA SIMONE DO RÊGO.
Graduanda do curso de Direito – UFCG – Sousa/PB
“Maquiavel teria sido obrigado pelas circunstâncias a disfarçar o amor pela liberdade, simulando dar lições aos reis, quando na verdade as dava ao povo”.
Nascido aos 3 de maio de 1469, em Florença, na Itália, filho de Bernardo e Bartolema, Nicolau Maquiavel, secretário florentino durante o governo dos Médicis, dedicou sua obra mais conhecida, O Príncipe, a Lourenço II, duque de Urbino (1419-1519), no entanto o soberano recebeu com frieza o presente e não teve tempo para aprender as lições, pois faleceu pouco tempo depois.
Dentre os vários escritos de Maquiavel, suas principais obras são A primeira Decenal, (1506), A Arte da Guerra, (1521), A Mandrágora, estas publicadas em vida; Os Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, (1531), O Príncipe (1513), na edição de Bernardo Guinta deu-se, além disso, O Retrato das Coisas da França, e O Retrato das Coisas da Magna, As Histórias Florentinas, (1532), O Asno, O Demônio que se casou, A Vida de Castruccio, estes últimos editados em memórias póstumas além de vários discursos dedicados a papas e soberanos.
No ano de 1498, Nicolau Maquiavel é nomeado secretário da República florentina, ocupa-se em direcionar a guerra contra Pisa, e em 1500, realizou sua primeira missão diplomática.
Em 1503, a política interna de Florença se fortalece e Maquiavel é designado para uma nova missão junto com César Bórgia, o “Príncipe que inspirou o célebre texto”. Este era filho do papa Alexandre VI e representa para Maquiavel o homem ideal para unir a Itália e criar barreiras contra as invasões estrangeiras.
Segundo Rousseau, (1712-1778), “Maquiavel teria sido obrigado pelas circunstâncias a disfarçar o amor pela liberdade, simulando dar lições aos reis, quando na verdade as dava ao povo”, (Maquiavel vida e pensamento), 2002. O próprio Maquiavel, quando escreve “Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrei ao povo os meios para dela se falar”.
Aos 44 anos Maquiavel é preso e torturado, sob suspeita de participar de uma conspiração contra os Médicis; comprovada sua inocência, tenta reconquistar a atenção dos Médicis, os quais tinham voltado ao poder, e escreve O Príncipe, um legado repleto de idéias elaboradas durante os seis anos que esteve exilado.
Ao escrever O Príncipe, Nicolau Maquiavel tinha como um dos seus objetivos ensinar aos governantes quais as astúcias e os métodos empregados por eles para conquistar e conservar o poder. Em suma, uma manual para os que governam, com base na então Europa medieval durante os séculos XV e XVI, principalmente a real condição e situação especial da Itália, pátria dele. Escritor renascentista, Maquiavel pretendeu através de O Príncipe enxergar verdadeiramente o caráter humano e exibir o lado mais indecoroso do homem diante de várias histórias de ardis, homicídios e espoliações de muitos governantes, num contexto econômico, social e político no qual ele procurou entender, entre outros, como seria possível fazer com que a Itália se tornasse uma nação poderosa e unificada.
No capítulo XXIII, de O Príncipe, Nicolau Maquiavel, aconselha ao Duque Lourenço II, que é bom evitar os aduladores e orienta o soberano dizendo como este deve fazer para se livrar dos bajuladores, alegando que estes podem fazer com que o Príncipe passe a agir diversamente, tomando atitudes contrárias, além de correr o risco de ver os planos fracassarem de tanto comunicar suas estratégias e ouvir as opiniões dos outros. Para Maquiavel, é importante evitar os aduladores porque quando o Príncipe “[...] começa a agir, todos começam, a saber, e a criticar e ele, complacente, muda de idéia. Assim, as coisas que faz em um dia destrói no outro. Nunca se entende o que quer nem o que planeja, nem se pode confiar em suas decisões”, O Príncipe (Cap. XXIII, p. 118).
Para Maquiavel, é bom que o Príncipe tenha conselheiro e que este fale a verdade, mas só a respeito do que lhe for perguntado, para depois aquele tirar suas conclusões. “Portanto, um Príncipe deve sempre se aconselhar, mas quando ele quer e não quando querem os outros”. “Cada conselheiro pensará em seus problemas e o Príncipe não saberá corrigir nem ajuizar a respeito”, O Príncipe (Cap. XXIII, p. 118-119).
Muito se falou e se escreveu sobre Maquiavel, por alguns ele é mal-entendido, no entanto, aos poucos está sendo possível levar à tona o que realmente propunha o secretário florentino quando escreveu O Príncipe. Por não terem conhecimento do contexto histórico, na qual foi a obra foi escrita, muitos erroneamente modificam o que tem de mais perspicaz e relevante inserido na história das concepções desse escritor. Dentre os seus objetos de análises, destaca-se a eficiência dos atos humanos com relação á busca e a conservação do poder, no entanto Maquiavel não é um mestre no ensino do mal, haja vista que nessa obra ele atenta para a importância da generosidade, clemência, estima, bem como quais atitudes devem ser tomadas por um príncipe para não ser odiado e desprezado. Ele apenas refletiu, entre outras coisas, sobre a malvadez nas conquistas de muitos governantes.