27.3.08

DAS FILOSOFIAS DA HISTÓRIA AOS PRECURSORES DA SOCIOLOGIA

Sociologia geral

Mário Ramos

"O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo". (Kant)

As filosofias da história – termo forjado por Voltaire – se esforçam por formalizar o progresso de sociedades que acumulam conhecimento e sabedoria. Dois homens tomam lugar de destaque nesta prática: Giambattista Vico e Marquês de Condorcet.

Vico, verdadeiro inventor de uma “teologia leiga da providência divina”, divide a trajetória da humanidade em três idades: idade divina(dos poetas, teólogos, criadores legendários); idade heróica ( fase de Aquiles e Rômulos, homens considerados heróis); idade humana (“os homens aí conhecem a igualdade diante da lei”). Caracteriza-se esta última pelo espírito igualitário, o pensamento, a razão e o sendo do dever.

Autor de Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano, Condorcet discorre sobre as dez etapas pelas quais a humanidade passou em busca da felicidade e da verdade. A Revolução Francesa seria a nona etapa e o ultimo momento é o do estado social, o da igualdade, dos direitos humanos.

Charles-Louis de Secondat, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu é considerado o verdadeiro precursor da sociologia por se mostrar livre de qualquer ponto de vista normativo e afirmar que o conhecimento das sociedades é tema de ciência, e não questão de crença. Montesquieu acredita que a realidade social é ordenada e segue uma lógica, independente de fé ou de moral. Do lado da ortodoxia católica, mais precisamente segundo as idéias de Bossuet, a ação dos humanos não é guiada pelo capricho, mas por um plano providencial (“O que é acaso diante de nossos conselhos incertos, é um plano concertado em um conselho superior...” – escreve Bossuet).

Montesquieu, em sua obra O espírito das Leis, tenta mostrar que as leis possuem um espírito e defende que elas estão sujeitas a fatores determinantes como: clima, a forma de governo, a natureza do terreno e a demografia. Por outro lado, como a seu ver “sobretudo uma sociedade não seria capaz de subsistir sem um governo”, ele opta por compreender o mundo a partir de sua organização política e distingue três espécies de governo: republicano, monárquico e despótico. Para evitar o despotismo deve haver uma fragmentação do poder em executivo, legislativo e judiciário.

A seu lado se impõe igualmente o nome de Rousseau. Denuncia vigorosamente as desigualdades e afirma que se a vida em sociedade produziu certamente coisas boas, o estado civil foi quem gerou tais desigualdades juntamente com servidões, leis e outras guerras que dividem e sufocam a liberdade dos seres humanos. É nesse contexto que propõe o contrato social afim de que, cedendo todos os seus poderes ao soberano, todos sejam livres e se submetam a uma mesma lei.

Em completa oposição às luzes, depois da Revolução Francesa, surge um discurso reacionário. As opiniões que convergem no intuito de denunciar a ruptura política de 1789 diagnosticam, todas, um verdadeiro traumatismo.A primeira crítica de peso vem de um conservador inglês, Edmund Burke: “a Revolução Francesa é senão a prostituição da própria razão. Joseph Maistre e Bonald também se inscrevem nesta linguagem anti-revolucionária e antiindividualista. Exigi-se um retorno ao Ancien Régime.

Entre 1818 e 1840 surge uma doutrina globalizante que exalta os direitos do homem como indivíduo: o Liberalismo. Ao lado de François Guizot e de Benjamim Constant, os filósofos Victor Cousin e Théodore Jouffroy são muitas vezes apontados como porta-bandeiras desse tipo de liberalismo.

Alexis de Tocqueville pode, de certa maneira, ser incluído nesta corrente individualista, mas é, antes de tudo, um teórico da democracia. Para ele, na democracia, os seres humanos estão inseridos em um sistema onde existe a mobilidade social. Tocqueville não ignora a fragilidade desse sistema político, por isto vai procurar no modelo norte-americano a resolução para esta fragilidade.

Augusto Comte, inventor do neologismo “sociologia” também se mostra sensível às mutações da Europa do séc. XIX. Percebe neste movimento de conjunto a passagem de uma sociedade “militar e teocrática” a uma sociedade “industrial e científica”. No intuito de resolver esta crise social augura uma nova ordem social, com base em “crenças teológicas” mas nas conquistas da filosofia positiva. Comte está convicto de que combinando ordem e progresso o positivismo vai superar a teologia e a revolução.

Comte postula que o desenvolvimento do espírito humano passa por três estados: o primeiro estado é o teológico ou fictício (fenômenos produzidos pelo sobrenatural); o segundo é o estado metafísico ou abstrato (o sobrenatural dá lugar a forças abstratas); e por fim o científico ou positivo (consideração dos fatos e suas leis). No plano histórico, este estado está em conformidade com a sociedade industrial.


Equipe Caixinha de Leite


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