29.8.09

O menino e o Ovo Mágico

Havia perto dali uma linda fazenda, não havia muito verde – por conta do sol que castigava, tinha uma estábulo, uma casa grande - com cadeiras enormes e acolchoadas e um chiqueiro- ou galinheiro se preferirem.

Não sei porque na verdade não tinha muito verde, só um belo jardim na entrada (quem não gosta de manter a frente da casa bem aparentável para os de fora?), umas árvores pingadas no meio e chão seco. Talvez a família que morava ali não tivesse condições de preservar melhor o seu lar, nunca se sabe.

Apesar disso os moradores eram felizes! O estábulo era o local mais cheio da fazenda. Lá estavam os cavalos, as éguas, os bodes, cabras, burros e alguns cães espertos. Todos viviam em harmonia realizando suas funções e contribuindo cada um como podia para o crescimento da fazenda.

Do outro lado, na casa grande, moravam 3 pessoas: Senhor Caio Jario Zento Iran Sá, conhecido como Cajá – apelido que herdou da infância, Dona Sara Olinda Urtiga Soares Almeida e o filho Joca - preferimos não dizer o nome todo que de tão comprido o menino tem raiva quando o perguntam, sabe como é, mania de família abastada querer o nome de todos os poderosos avós, tataravôs, tatatataravós ....

Na frente do estábulo estava o chiqueiro: grande, preservado e conservado chiqueiro. Dali vinha toda renda do Seu Cajá. Ali estava a grande produção de ovos que eram enviados para todos da cidade. Era difícil encontrar alguém que não comprasse ovos de Seu Cajá. Também, se não comprassem já eram olhados meio assim, com os olhos espremidos por uma cabeça entortada.

Joca garoto muito esperto, vivia de conversa no estábulo. Na casa grande, por ser filho único ou não - nunca se sabe, era sempre elogiado por Sara. Era respeitadíssimo por seu forte caráter e inteligência espantável. Conversava sempre com todos no estábulo e era querido por todas as galinhas.

Quando ia dormir, toda noite, Joca ficava pensando em coisas grandes. Muito difíceis para que qualquer garoto de seu tamanho pudesse pensar. Então ele sonhava com o dia em que ele ia crescer! Provavelmente neste dia a fazenda já seria sua! E ele imaginava a fazenda grande! Com o mato alto, com vacas pastando e dando leite e muitos bois, touros, talvez plantações de algodão, milho! Se perdia em tantos sonhos.

E então ele adormecia.

Nesse dia, sua imaginação já estava tão além que ele tivera um sonho no mínimo estranho. Sonhou que seu pai o dissera em segredo que o que faz sua fazenda ter sucesso e render um dinheiro para sobreviverem, era um ovo mágico. Joca fez cara de quem não entendeu, então seu pai o levou até o chiqueiro.

- Está vendo Joca? Ali no alto atrás daquela madeira. Vamos! Faça um esforço para ver! Então Joca se pôs nas pontas dos pés e conseguiu ver a ponta de algo brilhante.

- Mas pai! Está brilhando?

- Sim meu filho, é mágico. Recebi de um velho roceiro a quem ajudei dando abrigo na estalagem por uns dias, diziam que e ele sua mulher eram ciganos, nunca acreditei.
Ele me deu por gratidão, disse algumas coisas que a princípio não entendi.

Joca fez um silêncio, olhou para o ovo, olhou para o pai e se perdeu nas suas idéias de grandeza e de mágicas.

- Joquinha, filhinho, esse ovo não traz só a nossa renda, ele mantém a harmonia dessa fazenda. Antes dele só havia aqui o que eu não tinha estragado da herança da família. Depois que ele chegou, seguindo o conselho do velho de apenas conserva-lo, tudo começou a ir bem, e tudo que eu pedia moderadamente – aquilo que não ajudasse apenas a mim - acontecia! Então passei a vigiá-lo diariamente e limpa-lo quando necessário. Uma vez sua mãe estava muito doente, resolvi testar o ovo. Pedi que ela melhorasse e deu certo! Foi a única vez que pedi algo. Fora isso, tudo ocorre sempre maravilhosamente bem na fazenda. Os animais trabalham bem, eu trabalho bem e vivemos felizes.

Joca encheu os olhos de uma mistura de sentimentos e desejos inexplicáveis e indecifráveis. Enquanto o pai falava ele não conseguia parar de imaginar as divinas coisas que o ovo faria por ele! Ele estava num transe de férteis possibilidades, onde as palavras do pai passavam como pequenas formigas diante dos gigantes pés dos homens. E ele só conseguia estar acima dos homens para enxergá-los!

Quando voltou a si, Joca escutava as últimas palavras do pai de despedida. Não sabia se estava triste com a perda ou muito feliz com o ganho. Foi dormir.

No outro dia bem cedo Joca foi até o ovo de águia. Levou toda sua vontade, e quando o alcançou fechou os olhos bem forte e desejou bem forte muita coisa, pra enfim ver a terra da sua família crescer. Correu pra casa e ficou olhando para janela, esperando algo novo. E esperava. Esperou um tempão.

Já era quase fim da tarde quando escutou um barulho vindo do estábulo. Olhou na janela, parecia uma revolta dos bichos. Eles estavam fazendo barulho e não estavam em suas atividades normais. O jardim da frente estava terrivelmente mal tratado e estava vindo um cheiro horrível do chiqueiro.

Então, quando Joca desceu daquele seu sonho, caiu em si. Nada estava indo bem na fazenda, nada em harmonia. Tudo havia desandado desde o dia que Joca resolvera sonhar grande e esperar grande. Ele esquecera de cuidar da fazenda de verdade, para que ela por fim crescesse o tanto que merecia.

5 comentários:

Valfredo Mateus disse...

quando eu chamava ele de baba ovo... eu sempre soube!

Dayana Gabriella disse...

"A pressa não é só inimiga da perfeição. É também sintoma de infelicidade."
Obs.: Provérbio chinês.

Tomara que os "poderosos" e "preocupados" com o desenvolvimento sejam responsaveis e nao errem que nem joca! kkkkkkkkkkkk

Brenna Suany disse...

Hum,muito interessante.
Antes de chegar ao topo,ao crescimento,que possamos subir pomposomente todos os degraus.
:)

Anônimo disse...

Ótimo,parabéns!
Realmente é uma realidade que ele não quer aceitar e tão pouco vai desistir dessa ideia.
o mais chamativo em toda essa história e que poucos notaram é a habilidade de manipulaçaõ do reitor.
Cara ele provocou todo mundo,obteve respostas a sua provocação,então retira-se de jogada,ilude o(S) "decadente"(s)Joaquim e demais,e como os interesses dele é só eleição:matou dois coelhos com uma única cajadada e no final passa-se por benevolo.
Boa estrategia de afastar a concorrencia e de continuar em plena glória.
Parabéns para o nosso magnífico reitor e pesames para Joaquim e demais envolvidos com esse complô.

Lizi Correia disse...

Peço para que não façam comentários em anônimo, pq como todos nós sabemos ;) a liberdade de expressao existe ... mas veda-se o anonimato!
Por favor não repitam isto.